À SILHUETA


Afundo-me no airoso vazio da folha e tormentos
são palavras que cruzam velozes este caminho
e descaminho é o lícito atropelo dos momentos,
faróis cegando sonhos, na vilania do cadinho

O vazio inunda-me e há sonhos caídos de mim
na concha a mudez do mar e do navegante
num movimento de rotação sem fim,
aplaude no sono o espectador alucinante

Em todo o fado, a sátira desdita e combalida
há viver que se vive para além desta tela, e é real,
quão é este crescer da solidão da minha alma,

Que inflama e proclama a luz que se desvanece pálida
o argumentista recria-a e dá-lhe a tonalidade ideal
e nela revela-se a ironia castrando a minha calma...

Índia Libriana
(Agosto2007)
AO TEMPO QUE FOSTE


És de um tempo que foi e que já não dói
em que eram tuas minhas ruas
por onde passava e passeava
copioso teu olhar, uma dor de amar;

Eras caloroso espaço, regaço
de maciez sedosa, tez preciosa
cheirando a flores, dando calores
aos sentidos e ruídos contidos;

És da Imagem que foste, Cópia inópia
poesia sem sentimento, o pejo do beijo
que habitou o meu intenso silêncio
de todas as horas em que te amava nas demoras;

És saudade ausente, toque sem choque
do exaurido perfume sem ciúme,
da Ideia do inteligível no sensível
do tempo que foste, passado sem enfado;

Eras do tempo que eras e foram eras
de muitas promessas, louças essas já partidas
hoje nem saudades amenas, fóssil apenas
de tão remoto na minha memória sem glória.

IMPERADOR


Parece que alguém chorou nos teus olhos
e deixou neles um eterno efeito molhado,
um excesso de silêncio espesso e talhado
e nem tens neles capim verde aos molhos...

Parece que teus lábios foram sugados
com ímpeto devorador e fogoso
e ficou neles um rubor presunçoso
que sub saem deles brados calados...

Imperador foste também Augustus
pelejando e transportando o belo
do burgo para o proscénio das pistas...

E se retratos pudesses tirar os nus
dos teus olhos e teus lábios, o anelo
daria para expo e poses com outras artistas.

(Setembro2007)