LAMENTOS

Parto sim, do jovem aconchego desse olhar
que não retocará a sua fantasia primeira
e só há bilhete para Lugar Nenhum a cobrar
nesta Estação ubi cheguei tarde à bilheteira...

Parto sim – de tudo – e parto suas promessas
abandono o tango e volto ao crepúsculo da solidão
e fragmento noites e vicio madrugadas travessas,
no pranto do fadista há lamentos sentidos em vão...

Em meu retorno ao calabouço do frio espectro
há portas hipócritas abertas a festejar
abanando convites para entrar e chorar na ruela

Há lágrimas de reencontro e desencontro
e há queixumes de paredes a atormentar
com boas vindas cantadas a solo e a capela
Índia Libriana
(Maio2007)

MULHERES QUE EU AMO

ABRIGO
(à Marlene Lima)

Vim para rir em soluços no teu regaço à medida
Quero tuas mãos pétalas de rosa e talhado espinho,
espero neste repouso acalentar minha avenida
Em teu olhar um ósculo, um abraço e um carinho...

Trago-te a densidade de uma alma carente
ampla de carestia desde Caranguejo a Leão
e o transbordar-me quase corpo cadente,
confio-te tudo, enfim meu coração na tua mão...

Sei que não me chamarão desviada por este desejo,
por este querer-te mar, por que por quem almejo
é macho e puro tacho que me esvai...

Nem de ti, haverá conjecturas ora que és plenitude
de donzela e a perenidade em ti, e de teu seio infinitude
já é causa nascida, ajuizarás o que na alma me vai...
Índia Libriana
(09Agosto2007)
NÓS E O TEMPO

São Pedro e o tempo me vigiam
e tentam desvendar a diferença no meu olhar
Inquieto com o meu estado, São Pedro
me oferece seu chão para eu apoiar
meu pensamento em ti,

o tempo pára só para nós,
de tão parado que está, consigo tocá-lo
e roubo-lhe um naco para eternizar
este sentimento que me entranha e
entrelaça nas veias e inqueta minh’alma

Queria-te aqui para nos sentirmos únicos
Onde só o tempo tem tempo
E o resto... somos, somente nós
Nós e o tempo…

Índia libriana
(27Junho09)